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Caminhando com nossos Ancestrais

Ilustração das rotas migratórias terrestres ancestrais e rotas modernas de exportação brasileira, por João Marquezini em 2023.

A Filosofia é a primeira ciência, pois é a única que não precisa de nenhuma outra ferramenta além de atenção aos detalhes e muita capacidade imaginativa. Mesmo religiosamente o ensinamento é que primeiro os homens se esbaldaram do fruto do conhecimento, aprenderam a explorar seus pensamentos e assim nos afastamos do conceito de criatura, e assim passamos a ser manipuladores, construtores e artistas.

Tudo a partir de algumas perguntas básicas: Para onde estamos indo? De onde viemos? Os velhos respondem: Assim é o destino! Estude mais! Vá lavar uma louça! E quanto mais voltamos no tempo mais difícil é responder a essas perguntas. Adão e Eva já estavam caminhando pelo paraíso, e como animais selvagens não sabiam onde nasceram; a vida cria em nós os instintos do movimento, da atenção e da coragem. Eles tomam consciência do próprio corpo, porém todo o mundo ainda é um mistério infinito, então a respondem a primeira pergunta: Buscamos retornar ao paraíso.

Não é possível datar exatamente as migrações da humanidades, o trabalho científico consiste em mapear a genética e esse mapeamento tem demonstrado que nós, enquanto espécie humana, passamos a explorar cada canto do mundo desde sempre, muito antes da consolidação da Humanidade. Sabemos com certeza que nossa espécie tem suas origens na região da Etiópia, África. Considerando os vestígios mais antigos, começamos a traçar essa rota de exploração das savanas africanas em cerca de 300.000.000 de anos atrás; estes ancestrais mais antigos conviviam com outras espécies humanoides, bípedes e com capacidade cognitiva para utilizar e criar ferramentas. Os agrupamentos eram pequenos, se alimentavam basicamente de gramíneas, frutos e sementes.

Achados arqueológicos em contexto, como fogueiras e ossos de grandes animais com marcas de lâminas, sugerem que em 300.000 anos atrás nossos ancestrais passaram a manipular o fogo e acumular conhecimento sobre o ecossistema, compreendendo as estações do ano. Por conseguinte passam a controlar o ciclo de vida de vegetais e animais, também passam a usar ferramentas mais elaboradas e a expressão da personalidade individual se manifesta. É neste período que nos tornamos uma espécie só: Homo Sapiens. Sabemos que até hoje diversos povos, em especial os isolados do Amazonas, plantam, podam e selecionam a floresta de forma a garantir alimentos para as próximas gerações, que voltarão a fazer as mesmas rotas migratórias seguindo as águas.

Há 30.000 anos, nossos avôs acumularam conhecimento suficiente para começar um processo de sedentarização; esse controle sobre o bioma terrestre batizamos de Agricultura. Encontramos evidências de agrupamentos humanos habitando todos os os continentes, mesmo os lugares mais inóspitos, hostis e de difícil acesso. Não sabemos como, sem pregos, os primeiros navegantes cruzaram o Oceano Pacifico, mas o feito heroico foi realizado antes da passagem pelo extremo Norte Americano.

Eduardo Góes Neves integra o movimento de Arqueologia Amazonense, que cada vez conta com pesquisadores, colaboradores e apoiadores do mais alto gabarito. Suas escavações, considerando os saberes dos povos originários em comparativo aos acúmulos acadêmicos, indicam que a Floresta Amazônica tem cerca de 80% de suas árvores manejadas por seres humanos. Que verdadeiras universidades agrícolas, em especial pelo aprimoramento da Mandioca, existem há mais de 21.000 anos no Acre, em lugares de difícil acesso; o que indica que todos outros lugares, mais acessíveis, já tinham suas funções para outras pessoas.

Quando nossos avós europeus fundem o ferro, cerca de 600 anos antes da era comum, termina a Antiguidade e se inicia a Idade Média. A tecnologia da Antiguidade foram as pedras lascadas e polidas; senda pedra lascada anterior a Agricultura, já amplamente utilizada na era da Caça e da Coleta. Com a pedra polida se inicia também o refinamento da cozinha, das tintas e se passa a organizar sociedades maiores, sendo as primeiras cidades datadas em até 18.000 anos. A construção coletiva mais antiga já encontrada são um conjunto de templo dedicados aos Deuses da Caça na atual Turquia, teve suas colunas decoradas há 12.000 anos; com temática de animais e formas geométricas. A Arquitetura de Göbekli Tepe indica conhecimentos sobre geometria e sua posição geográfica, em relação com outros agrupamentos da região e da mesma época, revelam conhecimento político.

A posição geográfica do Brasil facilita a manutenção das Florestas e assim não passamos por grandes períodos de escassez e assim não foi preciso proteger a comida, nem acumular para os períodos de inverno rígidos. Há 30.000 anos os brasileiros vivem vidas orgânicas, suas cidades se renovam a cada 15 anos sem deixar vestígios dentro de mais 5 anos; a próxima geração construirá uma nova organização, com construções de madeiras e galhadas trançadas de todas as formas, tamanhos e decorações possíveis. As áreas sagradas são protegidas como santuários dos animais, como antas, tão importantes para alimentação antes da expansão portuguesa de 1.500 da nossa era, inaugurando a idade moderna e com sua duvidosa globalização.

Para encerrar esse assunto, basta observar quem muda de fato depois das navegações. Não existiria Itália sem tomates, nem Inglaterra sem Batatas e se o mundo já conhecia o boi o Brasil exporta o churrasco. O que seria do cinema sem a pipoca? O Brasil é a terra prometida, onde tudo que se planta dá, o leite verte do solo e o pão cai do céu.

A exposição Entre a Pedra e o Peixe é uma realização da Secretaria de Cultura e de Turismo de Itapira, cuja nossa organização está doando o serviço de suporte pedagógico e histórico.

Agende a visita guiada com sua família, amigos e alunos.

17ª Primavera dos museus

de 18 a 25 de setembro de 2023.